Pensar à rica

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Reflexões sobre: a distribuição e o escoamento agrícolas



Ao ler esta notícia no Jornal de Angola, fico a pensar que alguma coisa vai mal. Em Luanda a maioria dos supermercados vende por exemplo batata importada, e produtores do Wako Kungo dizem que não conseguem escoar por exemplo 900 toneladas deste produto. O que está mal? As estradas estão excelentes naquela zona do país, a Presild que surgiu para entre várias coisas, assegurar a compra da produção nacional e fazer a sua distribuição. Afinal o que leva que entre Wako Kungo e Luanda, o grande centro consumidor do país, haja 900 toneladas de batata à espera de escoamento? Algo não bate certo. O governo diz que está a fazer um grande esforço em relançar a agricultura no país. São investidos milhões de dólares na Presild, e depois somos confrontados com notícias como esta?

Jornal de Angola.
As empresas produtoras de grão, leguminosas e produtos perecíveis, no município da Cela (Wako Kungo), província do Kwanza-Sul, vivem momentos difíceis, pela falta de mercado para a comercialização dos seus produtos, facto que está a causar prejuízos. O vice-governador para a área económica e social, Mateus Alves de Brito, ouviu as queixas dos camponeses no final da visita que efectuou às unidades de produção do projecto “Aldeia Nova”. Mateus de Brito, que chefiava uma delegação do governo da província do Kwanza-Sul, integrada pelos directores da Agricultura, Indústria, Energia e Águas e Comércio, foi informado sobre a impossibilidade do mercado de consumo nacional absorver os altos níveis de produção registados até ao momento. Os produtores manifestaram, com apreensão, os prejuízos resultantes da falta de mercado de consumo, aliado ao fraco incentivo das estruturas do Governo em inverter a situação. O director do centro logístico do projecto “Aldeia Nova”, Estêvão de Carvalho, anunciou que cada ano que passa aumentam os níveis de produção de carne suína, que, a par de outros produtos, é a mais afectada em termos de comercialização e os prejuízos são enormes. A solução passa pela implantação de uma indústria de conservas, dizem os produtores. Outros produtos que se deterioram frequentemente, apontados pelo director do centro logístico do projecto “Aldeia nova”, são as hortaliças, principalmente o repolho, pimento e cenoura, que também não encontram mercado para a sua comercialização. A fábrica de rações produz actualmente mil toneladas por mês e até Março de 2010 prevê produzir o dobro, mas disse que é mais prudente diminuir a produção caso a situação do mercado prevaleça. Outra área que regista prejuízos é a fábrica de lacticínios que tem capacidade para produzir seis mil litros de leite por dia. Como o mercado não está a absorver a produção, “a única salvação para descongestionar a produção tem sido a empresa Lactiangol que absorve 18 mil litros de leite, duas vezes por semana, para a produção do leite “WAKO”, que já circula no mercado nacional. Outros constrangimentos apontados na funcionalidade das várias áreas do projecto “Aldeia Nova” prendem-se com a falta de água e de corrente eléctrica o que obriga a gastar 80 mil litros de gasóleo por semana, o que representa um “rombo” nos cofres da empresa. Estêvão de Carvalho solicitou ao governo da província do Kwanza-Sul uma intervenção junto das instituições e programas como o PRESILD e outros supermercados, que funcionam com produtos importados, para consumirem os produtos nacionais. Colheitas nos armazénsA Sociedade de Estudos e Desenvolvimento Industrial Agrícola e Comercial (SEDIAC), com 200 trabalhadores, é outra unidade de produção afectada com a falta de mercado para os seus produtos. Segundo o seu director-geral adjunto, Ivo Carvalho, a empresa tem oito mil toneladas de cereais (milho, soja e feijão) armazenadas e para guardar as colheitas da presente campanha agrícola vai instalar mais três silos que vão juntar-se aos cinco já existentes. Ivo Carvalho disse que as previsões de colheita da campanha agrícola 2009/2010 apontam para 2.113 toneladas de milho, com uma média de produção de 4.9 toneladas por hectare, 589 de soja, cinco toneladas de feijão manteiga e igual quantidade de feijão carioca, 10 de feijão preto e 30 toneladas de trigo. Os níveis de produção da SEDIAC apontam ainda para 150 toneladas de girassol. Ivo Carvalho pediu também às autoridades da província e às estruturas centrais para encararem com seriedade a problemática do escoamento da produção nacional. A Agro-Wako, uma empresa constituída em 2005, com 54 trabalhadores efectivos e mais 200 eventuais, é outra unidade de produção vocacionada para a produção de tubérculos (batata rena e doce), pimento, cenoura e frutas. Com uma área de 900 hectares, tem armazenadas 600 toneladas de batata e prevê colher brevemente mais 300, totalizando 900 toneladas, também sem mercado para comercialização. Fernando Francisco Sousa Neto, técnico da Agro-Wako, disse que a empresa não tem clientes para absorver os seus produtos e lamentou o facto dos supermercados nacionais estarem a vender produtos importados, em detrimento dos produtos nacionais, que acabam por se estragar nos campos de produção. “O Governo tem a obrigação de regular o comércio interno para que os investimentos feitos no sector agro-pecuário não redundem no fracasso”, disse Fernando Francisco Sousa Neto, desapontado com os prejuízos registados pela empresa. O vice-governador do Kwanza-Sul para a área económica e social, Mateus Alves de Brito, reuniu com os responsáveis das empresas produtoras e membros da administração municipal da Cela, para debater os problemas e tentar encontrar saídas para ultrapassar a situação. Em resposta a várias inquietações apresentadas pelos empresários que operam no município da Cela, Mateus de Brito defendeu a criação de uma cadeia de distribuição de produtos locais na província e nas províncias vizinhas, justificando que “em muitas localidades do Kwanza-Sul as populações não têm como se alimentar em detrimento da deterioração de produtos noutras zonas”. Apontou a criação de uma empresa de comercialização de produtos locais com apoio do governo, que possa colocar os produtos junto dos consumidores da província e da região.

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